terça-feira, 23 de março de 2010

Nas entrelinhas da candidatura Serra, Por Raphael Bruno

Enquanto parte da oposição comemorou, na sexta-feira passada, a tímida confirmação de que o governador de São Paulo, José Serra, será o candidato tucano na disputa pela sucessão presidencial, o conteúdo das declarações do principal adversário da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao anunciar a mais do que esperada disposição de concorrer ao cargo em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, da Rede Bandeirantes de Televisão, preconiza períodos turbulentos para o PSDB e seus aliados. A principal e mais óbvia dificuldade da oposição, ainda que apenas indiretamente admitida, são os elevados índices de aprovação do governo encabeçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Serra é franco ao reconhecer que, do ponto de vista da oposição, não interessa confrontar o petista. “O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo”, disfarçou o tucano.A opção de não atacar a atual administração, contudo, envolve uma complexa equação política cuja solução, talvez, ainda escape aos estrategistas tucanos. Pelo lado do pragmatismo eleitoral, pode parecer inteligente não partir com críticas ferozes para cima de um governo que é avaliado como ruim ou péssimo por menos de 10% dos brasileiros. É o que o governador mineiro Aécio Neves defende há anos: que o PSDB não deixe de reconhecer os avanços do governo Lula. Desferir ataques duros contra a administração petista poderia significar a perda de preciosos votos de eleitores que simpatizam com o governo e enxergam nele pontos positivos mas que ainda não fidelizaram seus votos a favor da candidata do presidente. Serra dá indícios de que foi convencido pela tese do correligionário ao dizer, cautelosamente, que deseja para o Brasil que ele “continue bem e até melhore”. Por outro lado, a oposição precisa encontrar uma maneira de fazer a crítica política ao governo sem se render ao temor de cair no ostracismo eleitoral. Do contrário, pode ser exigir demais dos eleitores que votem contra a candidata da continuidade governista se nem seus adversários são capazes de esclarecer as razões para justificar tal comportamento.O governador paulista deu a entender que a aposta tucana para driblar o dilema político-eleitoral é restringir a disputa eleitoral a uma comparação entre biografias e capacidades pessoais de gestão. “Não é o partido que vai se comparar. Você tem que ver quem é que vai ser presidente, quem vai dirigir as coisas, por que o presidente é insubstituível. Ele não governa terceirizado. Quem toma as decisões, inclusive nos momentos difíceis, é o prefeito, o governador, é o presidente. Não há ninguém que governe com alguém paralelamente”, destrinchou Serra.A tática seria inegavelmente correta se tanto Serra quanto Dilma fossem representantes do mesmo campo político. Nesta hipótese, as eleições seriam, realmente, uma espécie de grande comparativo de estilos e nuances ideológicas. Os dois pré-candidatos, contudo, são os escolhidos pelos dois partidos que monopolizam a disputa presidencial há anos. E, a despeito das muitas semelhanças que aproximam PSDB e PT, são os indivíduos que pleitearão, por grupos políticos distintos, o cargo político máximo do país.Neste sentido, o governador paulista deixa escapar o receio de ficar preso no chamado plebiscito que o presidente Lula planeja. Ou seja, que a eleição seja transformada num comparativo entre os oito anos de gestão petista do Palácio do Planalto e a era tucana de Fernando Henrique Cardoso. Serra já amargou, em 2002, a experiência de ser derrotado em uma eleição presidencial prejudicado pelos vínculos entre ele e um ex-presidente impopular. Espera que, oito anos depois, a história seja diferente. Logo, a tentativa artificial e quase desesperada de minimizar a importância do partido e daqueles que o acompanharam em sua trajetória política, entre eles o próprio FHC. Ainda que Serra tenha, ao longo desse caminho, pontuado divergências com políticas específicas do ex-presidente, principalmente na área econômica.

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